quarta-feira, 13 de março de 2013

A política de venda de armas nos EUA e a retórica da segurança

Por Luiz Fernando Miranda*
Colaboração: Letícia Travagin**

Em dezembro do ano passado, os jornais de todo mundo noticiaram que em uma escola na cidade de Newtown, no estado americano de Connecticut, houve um massacre onde um atirador desfechara a cena matando 28 pessoas. Vinte delas eram crianças.

Mais estarrecedor que este acontecimento é o fato de que jovens atiradores com problemas psicológicos, e que promovem massacres, não são uma novidade para aquele país. Esta sucessão de fatos acaba por denotar um grave problema de segurança pública nos Estados Unidos. O último massacre reacendeu o desejo de parte dos americanos, incluindo seu governo, de impor limites à venda de armas (especialmente de rifles) no território americano.

A questão, entretanto, não é nada trivial. Para início de conversa, a Segunda Emenda à Constituição Americana garante o direito a qualquer cidadão de portar armas. Há também um forte apelo à liberdade de mercado e a liberdade (negativa) de segurança. Contudo, não é novidade entre especialistas que não existe uma infinitude utilitária na liberdade de mercado e, além disso, esta liberdade de segurança na verdade é uma percepção que ou acaba por colocar parte destas armas nas mãos de quem não tem intenção meramente de se defender ou que tentam se defender de maneira inadequada.

Vemos ser mais difícil frear este comércio ao sabermos que não só os Estados Unidos são o maior importador de armas leves do mundo, mas que o comércio de armas leves é mal regulado e movimentou 4,3 bilhões de dólares só em 2010 (segundo o Small Arms Survey). Além disso, é comum na política americana haver políticos oriundos da indústria bélica, ou com fortes relações com ela, como o vice-presidente do governo George W. Bush, Dick Cheney.

Dificuldades postas, resta saber se a vontade institucional do governo, somada aos desejo de parte da população americana em diminuir a circulação de armas leves no país, conseguirá obter êxito. O final da trama é de difícil visualização.

* Doutorando em Ciência Política (UFF).
** Graduanda em Ciências Sociais (UNICAMP).