segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Lula, a internet e as eleições de 2014

Por Bruno Souza*

Já não é mais novidade o poder que a internet possui para informar e entreter ou mesmo distorcer e deformar a realidade. Ainda em meados dos anos 1990, quando este veículo de comunicação paulatinamente deixava de pertencer a um público restrito no Brasil e começava a ter o seu uso ampliado, ninguém sabia ao certo o quanto ele poderia ser um substituto ou mesmo companheiro da televisão no dia a dia dos brasileiros. Nos últimos anos, as tão popularizadas redes sociais também ganharam o grande público, tanto de jovens quanto de adultos, sendo uma maneira de veicular informação alternativa para todos que delas participam virtualmente, mas não apenas para os usuários comuns. Para os políticos, a internet (e o uso das redes sociais) também se tornou uma poderosa ferramenta, sendo incluída como recurso para propaganda política e divulgação de ações de mandatos.

Neste assunto em especial, o ex-presidente Lula sabe muito bem a importância de aparecer bem na foto. Conhecendo o ditado popular “um olho no peixe... outro no gato”, rapidamente se deu conta de que, melhor do que apenas uma boa imagem política diante da grande imprensa e mídia televisiva, é importante contar com maneiras diversificadas de construir a própria imagem e expressar a opinião. Claro que isso não é exclusividade dele. No entanto, pode-se considerar que ele saiu na frente quando levamos em conta o vídeo publicado em sua página do facebook na quinta-feira, 30 de janeiro, no qual alerta o telespectador quanto às vantagens da internet como meio de divulgação das ideias e aprendizado pessoal, na medida em que for utilizada com responsabilidade e sem difamações gratuitas. Em outros termos, Lula atenta para o papel da internet como ferramenta que contribui no processo de formação da opinião pública. Seria então apenas um vídeo para alertar os indivíduos sobre como formam suas impressões políticas e expressam suas opiniões virtualmente? Talvez seja ingenuidade demais.

Em ano eleitoral, até as piscadelas e acenos de “até logo” são milimetricamente planejados e elaborados pelas equipes de marketing político e assessorias de comunicação dos partidos. Já nas eleições presidenciais anteriores, PT e PSDB haviam escalado verdadeiras equipes para acompanhar pronunciamentos do candidato rival, retrucar agressões virtuais e despejar na rede os bons feitos de seus políticos com o intuito de equilibrar a informação que chegava aos usuários comuns. Sabemos que a prática, sem dúvidas, almeja chegar à perfeição. Mal começou o ano e novamente os partidos estão canalizando parte de seus recursos e atenção às redes sociais, principalmente para o twitter e o facebook. O serviço sem dúvida se profissionaliza a cada pleito: geração de relatórios, monitoramento constante, contratação de profissionais qualificados e elaboração de uma ação de defesa ou ataque a cada informação ou sátira publicada por um dos lados. Poderia se chamar “guerra virtual”, mas é campanha eleitoral mesmo.

Lembro-me que recentemente assisti ao filme “No” dirigido por Pablo Larraín, no qual se procura mostrar a disputa publicitária ocorrida no Chile em 1988 em meio à campanha que antecedeu o plebiscito popular no país que votaria pela continuidade ou não de Pinochet no poder. O personagem principal no filme, o publicitário René Saavedra, foi interpretado por Gael García Bernal, que com inteligência, coragem e astúcia consegue organizar com poucos recursos, e resistindo às forças de repressão governamental, uma fantástica e moderna campanha televisiva pelo “no”, marcada por uma linguagem simples e leve.

É claro que o ambiente no qual se dão as disputas eleitorais no Brasil é democrático e que assegura a pluralidade de opiniões e posicionamentos políticos. Contudo, a linguagem direta, as frases precisas e o sorriso de vencedor não aparecerão apenas no horário eleitoral gratuito que será transmitido pelo rádio e tevê a partir de 19 de agosto. Pela internet é que a campanha não para: seja de manhã ou de madrugada, as notícias não deixarão de ser veiculadas e as fotos com montagens dos mais diversos tipos serão curtidas e compartilhadas em velocidade instantânea. A disputa política nunca dorme nesta nova era digital. Se em 1988, a publicidade já adquiria papel fundamental em uma campanha, imagina em 2014, tendo ainda mais meios de comunicação à disposição. Pois é, Lula realmente saiu à frente.

* Doutorando em Ciência Política (UNICAMP) e Membro do Laboratório de Política e Governo (UNESP/Araraquara) .