Por Bruno Souza*

Neste assunto em especial, o ex-presidente Lula sabe muito bem a importância de aparecer bem na foto. Conhecendo o ditado popular “um olho no peixe... outro no gato”, rapidamente se deu conta de que, melhor do que apenas uma boa imagem política diante da grande imprensa e mídia televisiva, é importante contar com maneiras diversificadas de construir a própria imagem e expressar a opinião. Claro que isso não é exclusividade dele. No entanto, pode-se considerar que ele saiu na frente quando levamos em conta o vídeo publicado em sua página do facebook na quinta-feira, 30 de janeiro, no qual alerta o telespectador quanto às vantagens da internet como meio de divulgação das ideias e aprendizado pessoal, na medida em que for utilizada com responsabilidade e sem difamações gratuitas. Em outros termos, Lula atenta para o papel da internet como ferramenta que contribui no processo de formação da opinião pública. Seria então apenas um vídeo para alertar os indivíduos sobre como formam suas impressões políticas e expressam suas opiniões virtualmente? Talvez seja ingenuidade demais.
Em ano eleitoral, até as piscadelas e acenos de “até logo” são milimetricamente planejados e elaborados pelas equipes de marketing político e assessorias de comunicação dos partidos. Já nas eleições presidenciais anteriores, PT e PSDB haviam escalado verdadeiras equipes para acompanhar pronunciamentos do candidato rival, retrucar agressões virtuais e despejar na rede os bons feitos de seus políticos com o intuito de equilibrar a informação que chegava aos usuários comuns. Sabemos que a prática, sem dúvidas, almeja chegar à perfeição. Mal começou o ano e novamente os partidos estão canalizando parte de seus recursos e atenção às redes sociais, principalmente para o twitter e o facebook. O serviço sem dúvida se profissionaliza a cada pleito: geração de relatórios, monitoramento constante, contratação de profissionais qualificados e elaboração de uma ação de defesa ou ataque a cada informação ou sátira publicada por um dos lados. Poderia se chamar “guerra virtual”, mas é campanha eleitoral mesmo.
Lembro-me que recentemente assisti ao filme “No” dirigido por Pablo Larraín, no qual se procura mostrar a disputa publicitária ocorrida no Chile em 1988 em meio à campanha que antecedeu o plebiscito popular no país que votaria pela continuidade ou não de Pinochet no poder. O personagem principal no filme, o publicitário René Saavedra, foi interpretado por Gael García Bernal, que com inteligência, coragem e astúcia consegue organizar com poucos recursos, e resistindo às forças de repressão governamental, uma fantástica e moderna campanha televisiva pelo “no”, marcada por uma linguagem simples e leve.
É claro que o ambiente no qual se dão as disputas eleitorais no Brasil é democrático e que assegura a pluralidade de opiniões e posicionamentos políticos. Contudo, a linguagem direta, as frases precisas e o sorriso de vencedor não aparecerão apenas no horário eleitoral gratuito que será transmitido pelo rádio e tevê a partir de 19 de agosto. Pela internet é que a campanha não para: seja de manhã ou de madrugada, as notícias não deixarão de ser veiculadas e as fotos com montagens dos mais diversos tipos serão curtidas e compartilhadas em velocidade instantânea. A disputa política nunca dorme nesta nova era digital. Se em 1988, a publicidade já adquiria papel fundamental em uma campanha, imagina em 2014, tendo ainda mais meios de comunicação à disposição. Pois é, Lula realmente saiu à frente.
* Doutorando em Ciência Política (UNICAMP) e Membro do Laboratório de Política e Governo (UNESP/Araraquara) .