quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

PSDB versus PT: para além das fronteiras da disputa no plano federal

Por Vítor Sandes*

Desde 1994, PSDB e PT colocam-se como as principais alternativas nas eleições presidenciais no Brasil, possuindo as candidaturas mais competitivas nesses pleitos. Cientistas políticos têm percebido que o arranjo bipolar das eleições para a Presidência – que coloca, de um lado, o PSDB e, de outro, o PT – tem se replicado para as unidades subnacionais, principalmente nos estados brasileiros. Tal fenômeno é denominado pela literatura como “nacionalização” ou “presidencialismo da competição eleitoral”. Não sendo o intuito desta postagem testar a validade da premissa do imbricamento das dinâmicas eleitorais entre o nível federal e estadual e/ou municipal, constata-se: PSDB e PT têm ampliado consideravelmente sua força eleitoral no cenário político nacional desde 1994. Vejamos os fatos.

No cenário político estadual, o número de governadores eleitos pelos partidos vem aumentando ao longo do tempo. Nas eleições de 1990, por exemplo, PSDB elegeu apenas um governador e o PT nenhum. Já em 1994, ambos os partidos elegeram oito chefes do Executivo estadual, sendo seis do PSDB e dois do PT. Nas eleições de 2010, PSDB e PT elegeram 13 governadores, sendo oito peessedebistas e cinco petistas. Ademais, nesta mesma eleição, PSDB e PT participaram de 26 coligações vitoriosas nas disputas para o Governo do Estado, o que mostra a importância de ambos partidos na montagem de alianças em todo território nacional. 

No nível municipal, observa-se que nas eleições de 1996, PT e PSDB elegeram seis prefeitos de capitais brasileiras. O número cresceu para dez em 2000, atingiu quatorze em 2004 e dez em 2008. Nos municípios, a lógica PT-PSDB não é replicada com tanta clareza como acontece, em muitos casos, nas disputas para os governos estaduais. Isso pode ser verificado com a força do PMDB frente ao PSDB e ao PT. Nas eleições de 2008, o PMDB obteve seis prefeituras de capitais e foi o partido com o melhor desempenho eleitoral, considerando todos os municípios brasileiros, elegendo 1201 prefeitos, seguido por PSDB (com 791), PT (com 558), PP (com 551), DEM (com 496) e PSB (com 310). Esses partidos obtiveram cerca de 70% das prefeituras brasileiras nessas eleições.

O PMDB, portanto, aparece como grande força nos municípios brasileiros. Assim, percebe-se que a polarização estabelecida entre PSDB e PT não é a única possível, principalmente nos municípios. Porém, é patente que a ampliação da força eleitoral de ambos os partidos tem sido marcante na política brasileira. A disputa entre os partidos têm aparecido em algumas cidades.

A conquista de um bom desempenho nas eleições municipais deste ano é fundamental para a estratégia dos dois partidos, principalmente na disputas nos maiores colégios eleitorais do país, como no caso de São Paulo. Como aponta Claudio André de Souza, em artigo publicado na Carta Maior, a pré-candidatura de José Serra (PSDB) à Prefeitura de São Paulo, anunciada esta semana, “serve mesmo a 2014”. O partido entende que, caso indique um candidato de pouca expressão, corre o risco de perder o controle do maior colégio eleitoral do país, colocando em xeque também as chances de obter a vitória na próxima eleição presidencial. Do lado do PT, provavelmente teremos a candidatura do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, com as bênçãos do ex-presidente Lula. Com a vitória na capital paulista, abriria-se caminho para a reeleição da presidente Dilma Rousseff e, provavelmente, tornar-se-ia possível pleitear uma candidatura com maior peso para o Governo paulista, desbancando o PSDB em 2014. 

A polarização entre PSDB e PT, apesar de não ser o único arranjo possível, tem se apresentado, muitas vezes, na política brasileira, seja na disputa presidencial (desde 1994), seja nas disputas estaduais e municipais. Porém, para além da disputa entre uma candidatura situacionista e outra oposicionista, sabe-se que, por trás das siglas, devem-se existir planos políticos e propostas de políticas públicas pensadas para a realidade local. Se existe um modo peessedebista ou petista de governar, pergunta-se: quais projetos PT e PSDB colocam para a cidade de São Paulo e para os demais municípios brasileiros nas eleições deste ano? Em que se diferenciam? Ou a eleição municipal de 2012 é apenas um trampolim político para 2014?

* Doutorando em Ciência Política (Unicamp)

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